quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Variações linguísticas II

Falar em variações linguísticas é falar na diversidade do nosso povo, nas diferenças culturais, sociais, econômicas, religiosas, e por aí em diante... Mas por outro lado é desmitificar um conceito arraigado em todos nós de que temos uma unidade linguística, falamos a mesma língua de Norte a Sul, do Oiapoque ao Chuí. Realmente falamos a mesma língua?
Sim e não. Do ponto de vista da gramática normativa, sim. Mas se pensarmos na língua falada em cada canto desse país, com certeza veremos que há falares diversos, em nosso imenso Brasil. Temos muitas variações linguísticas.
Para começar temos os regionalismos. Estes, estão claros para todos. O nordestino, o carioca, o mineiro, o gaúcho... facilmente reconhecemos essas variações. Outra variação bem clara é quanto ao acesso à cultura. Rapidamente verificamos se uma pessoa tem ou não "estudo" simplesmente pela maneira de falar. Temos então um grande preconceito linguístico: o julgamento pelo prestígio ou pelo estigma. Logo, as variações não são apenas um fenômeno linguístico, mas também um fenômeno social.
Não é fácil para nós, professores de Língua Portuguesa, trabalharmos com diversas variações da língua em nossa sala de aula. Temos que rever conceitos antigos, repensar nossa maneira de ensinar, e não perder de vista a norma padrão, que ainda continua sendo o meio de acesso às camadas mais prestigiadas da sociedade.
Como encontrar um meio-termo? Como conciliar a gramática normativa com a linguística? Com certeza temos que ter bom senso. Não dá mais para corrigir erros de português como antigamente, pedir para copiar cem vezes cada palavra errada, corrigir a fala, mas também não podemos simplesmente rasgar todas as gramáticas, como queriam alguns linguistas.
Conhecer e respeitar as variações linguísticas em sala de aula é levar os alunos a uma reflexão sobre sua identidade, mostrando que cada variedade tem um momento certo para ser usada. Eis o papel do professor-pesquisador de língua.

Um comentário:

linguagem e poder disse...

Você tem toda razão. A norma padrão é uma das variantes da língua e precisamos dar aos nossos alunos oportunidade de conhecê-la. Nenhum lingüista sério desprezou o real valor da gramática, só alguns lunáticos falaram em abandoná-la.
Bjo