quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Mapa conceitual

Quando iniciei o curso Alfabetização e Linguagem, no dia 03 de abril, fui cheia de expectativas, afinal há anos esperava por um curso de atualização em Língua Portuguesa. Sempre achei as séries finais do Ensino Fundamental meio abandonadas. Quando trabalhava com as séries iniciais, todo ano freqüentava um curso. Mas desde que comecei a trabalhar com as séries finais este é o primeiro curso específico da minha disciplina que faço.
Começamos o curso com uma discussão maravilhosa sobre os três olhares do texto. Na verdade sempre falei em níveis de compreensão do texto, mas os três olhares me encantaram. Passamos a seguir ao estudo das variações lingüísticas. O fascículo escrito pelo professor Marcos Bagno foi esclarecedor e inquietante. Como ainda carregamos tanto preconceito lingüístico em nossas práticas! Passei então a ver o "erro" como algo diferente, existem variações e elas têm uma lógica incrível. Essa discussão sobre variações lingüísticas me fez mudar minhas práticas em sala de aula.
Outro tema que me marcou foi a questão da mudança lingüística. Assistimos ao filme Desmundo e foi chocante saber que até hoje algumas mulheres são tratadas como objeto sexual e subjugadas por seus companheiros. Na questão da língua, a formação do Português falado no Brasil foi evidente em sua diversidade, o que continua até hoje. É um filme que recomendo para todos os professores de Língua Portuguesa.
Quando chegamos ao tema Gêneros e Tipos textuais, pude perceber que ainda preciso estudar muito. Foi algo novo para mim. Pude refletir na diversidade de nosso idioma e na importância que nós, professores temos para uma formação de cidadão realmente letrados.
Certamente minha prática pedagógica não será mais a mesma. Posso dizer que com certeza cresci profissionalmente e até pessoalmente fazendo esse curso. Por falar em crescimento, como nossos momentos de "desabafo" foram importantes para o crescimento. Vimos que não estamos sós, nossas angústias são parecidas, muitas vezes só o fato de falarmos já nos anima. Nunca fui totalmente "tradicional" na forma de ensinar, mas certamente tenho hoje uma outra visão do ensino da Língua.
Quero agradecer às tutoras Tamar e Luzia pela paciência e persistência e a todas as colegas que contribuíram para a minha mudança.

Socialização de Atividades

No dia 06/11 eu e a professora Cláudia Renata fizemos a socialização de várias atividades realizadas em sala de aula. No CEF 11 fazemos um trabalho integrado em nossas disciplinas, Português e Projeto Interdisciplinar. Nesse ano o foco do projeto foi a produção de textos, logo, nossas aulas têm que estar em harmonia.
Começamos com a professora Cláudia mostrando um trabalho realizado no 2° bimestre, o Dicionário de Estrangeirismos, em que os alunos leram, interpretaram e debateram diversos textos sobre influências de outras línguas no nosso idioma. A seguir, pesquisaram palavras estrangeiras (anglicismos, galicismos, barbarismos, etc.) que são usadas em nosso falar cotidiano e as que já estão agregadas à nossa língua e confeccionaram um dicionário.
A seguir, fiz a socialização de uma atividade realizada ainda no 1º bimestre: Uma coletânea de poemas sob o tema Mulher. Nas aulas de Português os alunos fizeram a leitura e discussão da Lei Maria da Penha. Nas aulas de Projeto trabalhamos a estrutura do poema. Como atividade interdisciplinar os alunos produziram poemas belíssimos sobre a valorização da mulher.
Mostramos então várias atividades que os alunos da 8ª série produziram. Foram parágrafos dissertativos, análise de textos, críticas de textos, dissertações, artigos de opinião, carta pessoal. Todas as atividades do ano foram catalogadas em uma pasta e formaram assim o portifólio.
A seguir, postarei o texto de um aluno, produzido em sala de aula no dia26/05/2008:
Ser adolescente nos dias de hoje
Ser adolescente é ter um MP3 player e um tênis da Nike, fazer de uma palavra um poema, duma gota d´água o oceano pacífico, é não dizer o que sente, o que acha, o que pensa, é desprezar o samba e a MPB, e quase idolatrar o Créu, é preferir 1.000.000 de vezes um filme da Tropa de Elite ou um clipe da Beyoncé do que um livro de Machado de Assis ou Monteiro Lobato, é desprezar sua pátria aceitando o Inglês infiltrado na nossa língua, só para parecer chique ou FASHION.
É ser feliz do seu jeito, querer ter liberdade, tal que quando é concedida, é interpretada como abandono em suas mentes astutas, e sempre com uma resposta na ponta da língua, "como dizem os adultos", é se achar certo em suas próprias conclusões, e sempre criticar quem por ventura interferir. Mas apesar de tudo isto, todo mundo um dia vai, ou já adolesceu.

O que é texto?

Trabalhamos com textos todos os dias e na hora de conceituá-lo, titubeamos. Vimos que o discurso pode ser verbal (oral ou escrito) e não-verbal (gestos, imagens). Há ainda textos visuais.
Vimos que o texto é uma unidade da língua em uso. É uma unidade semântica que constitui um todo significativo. É uma unidade formal, pois apresenta características que lhe dão coesão.
Passamos então a falar sobre os sete fatores de textualidade: Coerência; Coesão; Intencionalidade(autor); Aceitabilidade(leitor); Situacionalidade(contexto); Informatividade(tema); Intertextualidade.
Fizemos depois um apanhado do estudo da Língua, a partir dos anos 70, que era meramente estrutural. O foco era a ortografia. Não havia contextualização. Nos anos 80, o foco da Comunicação e Expressão era a escrita. A sintaxe era baseada em frases isoladas( Sentenças). O contexto foi adicionado, mas somente na língua escrita. Já dos anos 90 em diante a interação sociointeracionista foi adicionada. O foco passou a ser o texto(discurso), imerso em um contexto, englobando a ortografia, sintaxe, níveis de linguagem, para se alcançar um maior nível de letramento.

Gêneros e tipos textuais

Uma das aulas mais interessantes do curso foi a aula sobre gêneros e tipos textuais. No início foi uma confusão geral. Isso se deveu à generalização que se faz, chamando a tudo de gênero textual. Pudemos então ir entendendo essa coisa toda.
Os tipos textuais são limitados.São realizações lingüísticas (estruturais e formais).São mais um “modo de texto” do que a realização em si do próprio texto. Abrange poucas categorias, que são narração, argumentação, exposição, descrição e injunção. Os tipos textuais são estáticos e possuem uma previsão na escolha do léxico e da sintaxe.
Já os gêneros textuais são bastante amplos. São as realizações lingüísticas em si. São orientados para um fim específico. Nos gêneros temos a possibilidade de escolhas para cada contexto social, portanto são fenômenos históricos profundamente vinculados à vida social e cultural. Os gêneros textuais vão mudando, pois a sociedade muda, logo vão surgindo uns e desaparecendo outros gêneros.
Os gêneros textuais são multiformes, ou seja, para entendê-los, precisamos estar atentos às imagens, às palavras, aos sentidos, à intercomunicação entre outros textos e gêneros (intertexto).
O trabalho com gêneros e tipos textuais em sala de aula deve ser uma constante em nossa prática docente. Levar o aluno a entrar em contato com um universo amplo de textos proporcionará a eles a ampliação de conhecimentos para aplicá-los em situações de interação dentro e principalmente fora da escola.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Mudança lingüística

A partir do filme Desmundo tivemos uma discussão sobre o tema Mudança lingüística. É fato que a língua é viva e está em constante mudança. Já na formação da Língua Portuguesa falada no Brasil temos a presença de outras línguas, dos povos que para cá vieram e que contribuíram para o distanciamento do “nosso Português” para o de Portugal.
Somos um povo formado por diversas etnias. E isso se reflete também na nossa língua. Os diversos falares de nosso povo são a marca da heterogeneidade cultural e lingüística que temos desde os primórdios da Colonização Portuguesa. A formação da nossa sociedade também se reflete na formação da nossa língua: Uma pequena elite no poder e a maior parte da população sendo subjugada por essa mesma elite. Não é assim também com a língua? Uma minoria detém as variantes de prestígio, enquanto milhões sofrem com o estigma de uma língua de incautos, língua feia, errada, “de caipiras”...
Convivemos com diversas variações da nossa língua. Há inclusive quem diga que não existe “nossa língua”. A diversidade do Português é grande, mas uma coisa é certa: a estrutura lingüística continua preservada, não importando se se fala uma variante culta ou não, a comunicação no Português brasileiro, se assim podemos chamá-lo, faz-se de forma bastante harmoniosa. E isto é incrível. Cabe a nós, professores de Língua Portuguesa, trabalharmos essas variações a fim de que se diminua esses preconceitos já amplamente falados.
Há também grande diferença nas línguas falada e escrita. Sabemos que determinados eventos de oralidade aparecem mais nas comunidades rurais e nas periferias urbanas. Quanto maior o grau de letramento, maior será a aceitabilidade da linguagem, seja esta oral ou escrita.
As mudanças culturais que ocorrem no nosso país também influenciam na mudança lingüística. A entrada da mulher no mercado de trabalho, e sua busca constante pela valorização e realização profissional são marcas dessa mudança. Outro fator marcante é a idade. Os famosos conflitos de gerações entre adolescentes e jovens com os adultos ocorrem também no modo de falar.
Por outro lado, temos um unificador lingüístico. A mídia, em especial a televisão tem levado as pessoas a quererem falar como os atores das novelas, ou mesmo a abandonar suas tradições lingüísticas.
Assim é a Língua Portuguesa, miscigenada, assim como o nosso imenso BRASIL. E em constante transformação.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Alfabetização e letramento

Trabalhei vários anos com séries iniciais do Ensino Fundamental e sempre fui fascinada pela alfabetização. Encanta-me ver os pequeninos descobrindo as letras, os sons, as palavras e fazendo deduções lógicas. Aprender a ler e escrever é um marco na vida de qualquer pessoa. Mas existe muito mais por trás do ato de ler. Na verdade começamos a ler o mundo muito antes de entrarmos na escola. Lemos cores, símbosos, números, lemos inclusive as pessoas. Mas em determinado momento nos deparamos com o mundo das palavras. Começa então a alfabetização. Até bem pouco tempo esse conceito era suficiente para mim. Pessoas alfabetizadas ou não-alfabetizadas. Mas trabalhando com as séries finais do Ensino Fundamental comecei a perceber algo estranho: alunos alfabetizados, às vezes até na 8ª série, que não conseguiam interpretar um simples texto.

No curso Alfabetização e Linguagem discutimos o tema Alfabetização X Letramento. Pude então entender que meus alunos mesmo alfabetizados se encontram em um nível ainda pequeno de letramento. Isso torna nosso trabalho ainda mais árduo. Elevar o nível de letramento dos alunos. O contato com livros fora da escola ainda é muito pequeno, isso por vários motivos. Não temos uma cultura de leitores, os livros ainda são muito caros para a realidade da maioria da nossa população, até mesmo nós, professores de Língua Portuguesa, muitas vezes deixamos a leitura de lado, por vários motivos.Elevar o nível de letramento de nossas crianças torna-se então um desafio que pode ser vencido com algumas medidas, como por exemplo levar para sala de aula diversos gêneros textuais, levar livros literários para que leiam pelo simples prazer de ler. Procurar nos livros didáticos textos de diferentes gêneros e tipos, estimular a pesquisa e a oralidade. O trabalho com o jornal pode ser um aliado de grande valor nesse intento.

Com efeito, essas e outras medidas poderão ajudar a ampliar o nível de letramento dos alunos das séries finais do Ensino Fundamental.


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Variações linguísticas II

Falar em variações linguísticas é falar na diversidade do nosso povo, nas diferenças culturais, sociais, econômicas, religiosas, e por aí em diante... Mas por outro lado é desmitificar um conceito arraigado em todos nós de que temos uma unidade linguística, falamos a mesma língua de Norte a Sul, do Oiapoque ao Chuí. Realmente falamos a mesma língua?
Sim e não. Do ponto de vista da gramática normativa, sim. Mas se pensarmos na língua falada em cada canto desse país, com certeza veremos que há falares diversos, em nosso imenso Brasil. Temos muitas variações linguísticas.
Para começar temos os regionalismos. Estes, estão claros para todos. O nordestino, o carioca, o mineiro, o gaúcho... facilmente reconhecemos essas variações. Outra variação bem clara é quanto ao acesso à cultura. Rapidamente verificamos se uma pessoa tem ou não "estudo" simplesmente pela maneira de falar. Temos então um grande preconceito linguístico: o julgamento pelo prestígio ou pelo estigma. Logo, as variações não são apenas um fenômeno linguístico, mas também um fenômeno social.
Não é fácil para nós, professores de Língua Portuguesa, trabalharmos com diversas variações da língua em nossa sala de aula. Temos que rever conceitos antigos, repensar nossa maneira de ensinar, e não perder de vista a norma padrão, que ainda continua sendo o meio de acesso às camadas mais prestigiadas da sociedade.
Como encontrar um meio-termo? Como conciliar a gramática normativa com a linguística? Com certeza temos que ter bom senso. Não dá mais para corrigir erros de português como antigamente, pedir para copiar cem vezes cada palavra errada, corrigir a fala, mas também não podemos simplesmente rasgar todas as gramáticas, como queriam alguns linguistas.
Conhecer e respeitar as variações linguísticas em sala de aula é levar os alunos a uma reflexão sobre sua identidade, mostrando que cada variedade tem um momento certo para ser usada. Eis o papel do professor-pesquisador de língua.